Cerca de 15 por cento da população desenvolve um primeiro episódio depressivo depois dos 65 anos.
A depressão nos idosos não é tão prevalente como nos adultos jovens, mas as consequências são mais graves, alertou a psiquiatra Luísa Figueira.
A vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Terceira Idade, adiantou que a depressão tem aumentado em todas as faixas etárias, afectando cerca de 20 por cento da população portuguesa.
Na terceira idade “não é tão prevalente como na idade adulta média”. “Dez a 15 por cento das pessoas desenvolve uma depressão, pela primeira vez, a partir dos 65 anos”, afirmou.
Como causas para o aparecimento desta doença nos idosos, a médica aponta o “isolamento” e os “acontecimentos de vida”, como as “perdas que se vão acumulando e outras que aparecem muitas vezes nessa faixa etária, como a perda do companheiro ou o afastamento dos filhos”.
E as consequências são muitas: “a depressão nestas idades aumenta as dificuldades cognitivas e pode levar mesmo a um falso diagnóstico de demência”, alertou.
A depressão, que se caracteriza por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil, vai causar no idoso “dificuldades de memória e de concentração”.
“Vai isolar ainda mais o idoso do mundo que o rodeia” e este vai passar a “investir mais no seu desgosto, na sua depressão e menos no exterior”, aumentando o isolamento e agravando algumas características próprias da idade, explicou a médica.
Por outro lado, acrescentou, as doenças físicas e sobretudo as incapacidades que se vão manifestando (visuais, auditivas, motoras, etc.) podem ser vividas de uma forma muito depressiva.
Muitas vezes a doença é subdiagnosticada. “As pessoas entendem que só porque a pessoa é idosa, é normal estar deprimida, mas não é assim”.
“A depressão não faz parte do envelhecimento normal. A pessoa pode estar triste, mas não tem depressão”, sublinhou, comentando que a tristeza, o luto e as respostas às perdas são temporárias e as pessoas encontram mecanismos para as ultrapassar.
Para o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, Manuel Carrageta, esta situação “é preocupante”.
Para ultrapassar esta situação, é fundamental que os mais velhos tenham vida social, sejam optimistas, tenham uma actividade e pratiquem exercício físico.
“Com o avançar da idade, os idosos vão perdendo os amigos e a família e as capacidades vão diminuindo. Essas perdas sucessivas levam ao isolamento e à depressão, que se associa a várias doenças, nomeadamente o enfarte do miocárdio e a morte prematura”, sustentou
“O facto de terem um papel activo na sociedade é recompensador do ponto de vista psicológico”, disse, rematando: “É importante que as pessoas se sintam realizadas e que a sua vida faça sentido”.
Retirado de Diário de Notícias