O número de pessoas a viver sós em Portugal tem vindo a crescer nos últimos anos, sobretudo entre os mais jovens, embora a fatia mais significativa ainda seja a dos idosos, conclui um estudo de Maria da Graça Magalhães, do Departamento de Estatísticas Censitárias, do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseado nos dados dos censos. Em 1991, havia 397 mil pessoas a viver sós, em 2001 eram 572 mil – o que representa um aumento na casa dos 44% em dez anos.
Maria da Graça Magalhães traça também o perfil da pessoa que vive só: são sobretudo mulheres – 67,5% e apenas 32,5% homens -, com 65 anos ou mais e residentes na Grande Lisboa (24,4%). Seguem-se as regiões do Grande Porto (10,2%), Península de Setúbal (7,4%) e Algarve (4,8%).
“Esta tendência social entre as pessoas com mais de 65 anos é explicada sobretudo pelo aumento da esperança média de vida”, analisa o sociólogo Pedro Vasconcelos. “As pessoas vivem até mais tarde, ficam viúvas, levando ao aumento de famílias unipessoais.”
Para o docente do ISCTE, esta questão não se deve tanto ao abandono dos idosos por parte da família – embora reconheça que existam casos -, mas sobretudo porque há cada vez mais pessoas com mais de 65 anos a conseguirem viver de forma autónoma: “Os idosos, desde que estejam de boa saúde, preferem permanecer na sua casa, no mesmo espaço de há muitos anos, mantendo as mesmas rotinas e referências.”
Por outro lado, o aumento substancial de famílias unipessoais entre os jovens dos 20 aos 30 anos deve-se a dois factores, defende Pedro Vasconcelos. “Por um lado, assistimos, desde há alguns anos, a um maior desenvolvimento socioeconómico entre os mais jovens e, consequentemente, a uma maior autonomia financeira em relação aos pais, o que lhes permite sair de casa”. Por outro lado, a sociedade segue no caminho da individualização e da autonomia pessoal. “Os contextos que conhecíamos do passado que privilegiavam a colectividade, os grupos e a proximidade familiar estão a cair”, conclui o sociólogo.
Fonte: Diário de Notícias