O objectivo era entregar cabazes de Natal a mil famílias, mas foi ultrapassado: em distribuições no Porto e em Braga, Coimbra e Lisboa, a Legião da Boa Vontade (LBV), nas últimas semanas, passou de 1100 sacos.
Os pedidos de alimentos continuam a aumentar.
Mil sacos de alimentos e brinquedos a famílias em risco social é um objectivo simbólico nesta época. Na Páscoa, é de 500. “Mas ultrapassamos sempre, porque há sempre muitos pedidos”, assegura Eduarda Pereira, responsável de comunicação daquela organização não governamental de solidariedade social, que faz distribuição especial – alargada em número de famílias e em composição do cabaz: entram também a aletria e o tradicional bolo-rei.
Todos os meses, entre 100 e 130 agregados em risco social ou sem retaguarda recebem alimentos. Mas o número de inscritos é superior a 1700. “Este ano, temos muitos que até já tinham sido ajudados há alguns anos e que voltaram a necessitar de ajuda, com o aumento do desemprego”, explica Eduarda Pereira.
Os pedidos à LBV, que aumentaram 30% este ano, segundo a responsável, são feitos directamente, mas também através de outras instituições – juntas de freguesia e misericórdias incluídas.
Ultimamente, chegam mais através de vizinhos. É uma expressão da pobreza envergonhada, conclui, porque os novos pobres não querem ser vistos a entrar na instituição. É ela que vai ao seu encontro: “Visitamos as famílias e avaliamos as situações.”
Nem todas podem ser ajudadas de imediato, mas ao longo do ano o núcleo de agregados apoiados vai mudando, explica, porque a Legião da Boa Vontade não tem capacidade de resposta para atendê-las. “Não há doações de alimentos e de dinheiro suficientes e também temos encargos com a manutenção da instituição”, diz, apontando um novo fenómeno recente: “Há muitas famílias que já só conseguem ter dinheiro para pagarem a prestação da casa, e outras nem isso, ficam sem dinheiro para comida e aparecem no centro social e nas carrinhas da nossa “Ronda da Caridade” para os sem-abrigo com taparwares para levarem uma refeição quente”.
As 210 toneladas anuais de alimentos distribuídos a famílias e em refeições preparadas resultam de doações – metade em géneros, metade em dinheiro – de empresas e de particulares, designadamente nas campanhas de recolha, bem como de entregas do Banco Alimentar contra a Fome.
A instituição está a estudar a possibilidade de recorrer ao programa europeu de distribuição de excedentes de alimentos, através do Instituto de Segurança Social, com o qual não tem aliás qualquer acordo que permita designadamente receber subsídios estatais para as suas actividades.
“Não é que não precisemos deles, mas há certos formalismos que nos pedem e não podemos perder a nossa autonomia, a garantia de que os nossos programas não são interrompidos à espera de autorizações”, justifica Eduarda Pereira, observando que não pretende criticar a Segurança Social.