Nunca ganhou prémios nem concursos em 87 anos de vida. Mas hoje Felismina Glória Oliveira confessa-se milionária. “Saiu-me o euromilhões”, afirma, ainda surpresa por não ter de pagar as obras de recuperação que farão na sua casa acanhada no Bonfim (Porto).
Envergonhada ao ver tanta gente a espreitar-lhe a habitação modesta na ilha da Rua de Vera Cruz, Felismina reconhece a sorte de estar entre os cinco moradores do concelho que foram seleccionados pela Fundação Porto Social e pela empresa Mota-Engil para estrear o projecto Porto Amigo.
A empresa gastará 50 mil euros para devolver o conforto a cinco casas de idosos (alguns acamados e com dificuldades de locomoção), cujos parcos recursos mal chegam para suportar as despesas diárias e que nunca seriam suficientes para pagar obras de recuperação. “Também faremos mais meia dúzia de pequenas intervenções”, como a substituição de caleiras, assinala o arquitecto José Ribeiro, da Mota-Engil. Todas as empreitadas de fundo serão em ilhas, como a de Felismina, que ganhará um telhado novo.
“Já tinha ido há quatros anos à Câmara e ninguém veio ajudar-me. Um familiar leu sobre o concurso no jornal e avisou-me. Eu fui à Bonjóia apresentar o meu caso, mas não estava a contar com a ajuda”, recorda Felismina Oliveira. A boa notícia chegou na semana passada. O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, e o presidente do grupo Mota-Engil, António Mota, foram à ilha do Bonfim lembrar que Felismina não é caso único. O programa Porto Amigo, sugerido por Rui Pedroto (filho de José Maria Pedroto e director da área de sustentabilidade do grupo) no início de 2009 à Fundação Porto Social, não tem dada de validade.
Todos os anos, a empresa disponibilizará 50 mil euros para reabilitar casas de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, carências económicas e que residam só ou com o cônjuge. Essa selecção é feita por concurso lançado pela fundação. No primeiro concurso, surgiram 56 candidaturas. Feita a triagem, restaram 16 casos. Dentro do orçamento disponível, dar-se-á resposta a cinco situações mais urgentes.
“Queremos somar outras intervenções a estas cinco ainda este ano”, afiança Rui Pedroto, que alimenta a expectativa de abrir, até ao final de 2010, um novo concurso para escolher outras habitações que necessitem de obras. “A nossa vontade é manter o programa nos anos vindouros”, continua. Os candidatos (entre os 16 já seleccionados) que não foram contemplados ainda poderão receber a ajuda da empresa, se não surgirem casos mais graves no novo concurso a lançar pela fundação. As obras deverão começar depois dos festejos da Páscoa e serão feitas em mais do que um local em simultâneo. “Em todos os casos, as pessoas não terão de deixar as suas habitações”, esclarece o arquitecto José Ribeiro.
Enaltecendo o “exemplo” social dado pelo grupo Mota-Engil que possui programas semelhantes em Oeiras e em Amarante, o presidente Rui Rio lembra que, no que toca às ilhas, a Domussocial já começou a fazer um levantamento. Nos casos de maior gravidade, a empresa municipal poderá realojar os moradores.
Fonte: Jornal de Notícias