Associação Portuguesa de Psicogerontologia

300 mil pessoas a passar fome em Portugal

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300 mil pessoas a passar fome em Portugal

 

Muitas famílias não conseguem garantir uma alimentação adequada, embora não seja fácil chegar a números. Até porque a “cara da pobreza está a mudar”, dizem as instituições.

Trezentos mil. Ou melhor, pelo menos 300 mil. É este o número de portugueses que ainda passam fome. O número que “nos envergonha a todos”, segundo o Presidente da República. Cavaco Silva lançou o alerta a propósito da iniciativa “Direito à Alimentação”, que quer distribuir as sobras dos restaurantes por 4500 instituições de solidariedade e assim matar a fome às famílias carenciadas.

“Relativamente à fome faltam dados e temos de nos limitar ao que dizem as instituições que apoiam as famílias cadenciadas, nomeadamente o Banco Alimentar, que apontava para 280 mil pessoas há uns meses, antes da crise”, explica o investigador Alfredo Bruto da Costa. Um número que entretanto chegou aos 300 mil ao longo deste ano.

“Pelo que temos ouvido, pelos apelos de instituições de apoio social, é possível que este número esteja a crescer”, acrescenta o especialista que tem estudado a pobreza em Portugal desde os anos 80. E mesmo assim é difícil incluir neste número a “pobreza envergonhada” que não procura ajuda. A crise pode mesmo inverter a tendência de diminuição da pobreza que Portugal registou nas últimas décadas, alerta Alfredo Bruto da Costa. “Em 2008, antes de sermos atingidos pela crise, tínhamos 18% de pobres. Depois disso não sabemos o que aconteceu”, conclui.

Três instituições que da rua tiram a ideia de que a vida está mais complicada são a Legião da Boa Vontade, a Comunidade Vida e Paz (CVP) e a AMI. “Já não são só os sem-abrigo a procurar carrinhas de distribuição de comida”, diz Heloísa Teixeira, da Legião. “A cara da pobreza mudou”, reforça Elisabete Cardoso, da CVP. Já a AMI, nos primeiros seis meses deste ano ajudou tantas pessoas como em 2005. “Recebemos pedidos de ajuda de pessoas sem dinheiro para comer, para medicamentos, renda, água ou uma botija de gás para cozinhar”, diz Ana Martins.

Foi por chegarem cada vez mais pessoas a pedir comida aos restaurantes que a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) avançou para a iniciativa “Direito à Alimentação”, diz o secretário-geral José Manuel Esteves. “Eram nossos clientes na semana passada e esta semana entram de mão estendida”, explica. A AHRESP espera que a rede que está a montar para recolher donativos dos cerca de 25 mil associados e entregá-los às pessoas com fome possa entrar em funcionamento já em Janeiro – abrangendo 4500 instituições de solidariedade espalhadas pelo País. E foi no lançamento desta rede que o Presidente da República disse que nos “envergonha a todos saber que há portugueses com fome”. Uma frase que já lhe valeu críticas da esquerda (ver caixa).

Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, reconhece que há muitas famílias que não conseguem “assegurar um regime alimentar adequado”, mas lembra que há me- canismos para as ajudar.

Apesar de considerar “louvável” qualquer iniciativa para ajudar pessoas em dificuldades, o responsável alerta que “o Portugal do século XXI não deve entusiasmar–se com soluções deste tipo, mas sim discutir as causas e encontrar soluções estruturais para resolver os problemas das famílias com carências alimentares”.

Associação Portuguesa de Psicogerontologia

A Associação Portuguesa de Psicogerontologia-APP, Instituição Particular de Solidariedade Social sem fins lucrativos e de âmbito nacional, dedica-se às questões biopsicológicas e sociais inerentes ao envelhecimento e às pessoas idosas, visa a promoção da dignificação, respeito, saúde, autonomia, participação e segurança das pessoas idosas, num quadro de envelhecimento ativo e de solidariedade intergeracional, e de uma sociedade mais inclusiva para todas as idades, promove novas mentalidades e combate estereótipos negativos relativamente à idade e ao envelhecimento.

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